quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sob críticas, Israel avança com construções na Cisjordânia em ritmo acelerado

Os colonos israelenses já construíram ao menos 544 casas em apenas três semanas na Cisjordânia, após o fim da moratória que impedia a expansão dos assentamentos, no dia 26 de setembro. Os dados foram revelados nesta quinta-feira por um levantamento da ONG de paz israelense Peace Now [Paz Agora] e da Associated Press.

Segundo a ONG, a construção "está se dando em grande velocidade, quatro vezes mais rápido que antes da moratória, já que durante dez meses eles [os colonos] não puderam construir". Além disso, há cerca de 13 mil imóveis que contam com todas as permissões necessárias para ser construídos.




Os colonos aceleraram as obras de construção perante o temor de que o governo de Binyamin Netanyahu anuncie uma nova moratória para dar continuidade às negociações.

Em reação, o premiê de Israel reduziu o impacto da expansão de colônias dizendo que o fato "não tem um efeito real sobre o mapa de um possível acordo [de paz", em direta alusão à definição das fronteiras de um potencial Estado palestino.

O assunto é visto como tema-chave para o sucesso do processo de paz. Muitas das casas, aponta a Associated Press, estão sendo erguidas em áreas que sob qualquer possível cenário de um acordo de paz fariam parte de um potencial Estado palestino.

NEGOCIAÇÕES DE PAZ

A rápida expansão coloca em xeque o sucesso das já novamente estremecidas conversas diretas de paz, retomadas ainda no mês passado sob a mediação dos Estados Unidos.

As negociações diretas de paz, relançadas em 2 de setembro em Washington, se estagnaram no dia 26 de setembro, quando Israel decidiu não prorrogar a moratória sobre construções nos assentamentos judaicos na Cisjordânia.

Os palestinos exigem uma nova moratória para prosseguir com as conversas.

Israel defende que a questão dos assentamentos deveria ser resolvida em discussões sobre as futuras fronteiras, e não ser uma pré-condição para as negociações de paz.

Cerca de 500 mil israelenses vivem na Cisjordânia e em Israel Oriental, entre 2,5 milhões de palestinos.

REAÇÃO

O ex-presidente americano Jimmy Carter --que visita Israel, Gaza e a Cisjordânia-- expressou ultraje. "O sofrimento aqui sob ocupação e as privações do povo de Gaza são evidências das políticas impróprias do governo de Israel", disse ele. "Vamos continuar a trabalhar para uma solução pacífica em que os israelenses saiam de Jerusalém Oriental, e deixem que seja a capital do Estado palestino."

Já o enviado especial da ONU para o Oriente Médio, Robert Serry, qualificou de "alarmante" o ritmo das construções.

"O reatamento da construção dos assentamentos, que é ilegal de acordo com o Direito Internacional, vai na direção oposta dos pedidos da comunidade internacional às partes para que encontrem as condições para a negociação, e isso destruirá a confiança", destacou em comunicado.

"Esses números são alarmantes e mostram mais um indicador de que Israel não leva a sério o processo de paz, que deveria ter como alvo o fim da ocupação", disse Ghassan Khatib, porta-voz de Mahmoud Abbas, presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina).

A ANP também pediu uma intervenção dos Estados Unidos para interromper o que classificou como um "desafio" aos palestinos.

"Este desafio flagrante aos palestinos, aos árabes e à administração americana exige uma réplica árabe e internacional, em particular americana", declarou Nabil Abu Rudeina, outro porta-voz de Abbas.

Já o assessor Nimr Hamad declarou que cabe ao líder palestino solicitar aos EUA que reconheçam a necessidade de um Estado palestino limitado pelas fronteiras anteriores a 1967, quando teve início o processo de colonização israelense.

Hamad declarou que ante as evidências de que os colonos judeus continuam com a expansão dos assentamentos, "e dado que o governo americano pediu em inúmeras ocasiões o final da ocupação que começou em 1967, assim como o estabelecimento de um Estado palestino independente, viável e soberano, vamos pedir oficialmente que Washington reconheça o Estado palestino", concluiu.

No último dia 15, o Ministério de Habitação israelense voltou a ser alvo de duras críticas na esfera internacional após licitar a construção de 238 casas para judeus em dois assentamentos situados em Jerusalém Oriental, território palestino ocupado desde 1967.

HILLARY DEFENDE O DIÁLOGO

Os números divulgados pela Associated Press chegam pouco depois de a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, afirmar que as negociações diretas entre israelenses e palestinos "são absolutamente necessárias" e constituem o "único caminho" para um acordo de paz justo e durável no Oriente Médio.

Em discurso pronunciado perante a American Task Force on Palestine, Hillary admitiu que não tem uma "fórmula mágica" para superar o ponto morto no qual estão as negociações diretas entre israelenses e palestinos. No entanto, ela considerou que, se os dois líderes estiverem comprometidos com o processo, um acordo será possível.

"Negociações não são fáceis, mas são absolutamente necessárias", declarou a secretária. "Não há nada que substitua conversas tête-à-tête para conseguir um acordo que leve a uma paz justa e duradoura".

"É o único caminho para cumprir as aspirações nacionais palestinas e a solução necessária de dois Estados", ressaltou.

Fonte: Folha.com

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